segunda-feira, setembro 02, 2013

A Cidade dos Cachorros Mancos

O pequeno filhote nasceu forte e maior que seus irmãos, para puro orgulho da mãe. Ah, ele certamente cresceria para ser um macho alfa assim como seu pai.

Então, como foi criado como um dos pequenos príncipes, ele achava que o mundo havia sido feito para ele, que a matilha existia para servi-lo; um dia, um dia. Mas havia algo que ele temia como mais que tudo em sua pequena e principesca vida.

Era fato que em sua criação ele havia aprendido que toda a matilha era tão fraca quanto o mais fraco de seus membros. Por isso ele não queria, não podia ser o mais fraco! Ele tinha que ser forte, rápido, esperto, tinha que ser tudo isso para um dia ser o líder que sua mãe esperava.

Todo esse pavor existia por ele já ter visto o que significava ser o ele mais fraco. Um ancião da matilha um dia não tinha mais forças para acompanhar o grupo e foi deixado para trás. Como não estava acostumado àquilo, o filhote parou um pouco para conversar com o velho, achando que todos voltariam. Ao invés disso, ele recebeu uma lição que só os idosos abandonados poderiam passar a um futuro líder.

Nessa hora então o velho contou a ele sobre a sorte que todos os seus irmãos tiveram, incluindo os que morreram logo depois de nascer. Sim, pois todos os que vingaram eram fortes e cresceriam em meio às adversidades. E os que morreram, bem como ele já havia dito, tiveram sorte por não sofrerem nesse mundo cruel ou por não terem que crescer aleijados numa matilha que não os aceitaria assim.

O velho ainda explicou que se algum companheiro de matilha fosse gravemente ferido – especialmente pelas velozes caixas de homens, que chegavam mais rápido e silenciosas do que normalmente conseguíamos reagir – e tivesse o azar de sobreviver ele deveriam ser uma última vez alimentados e enviados para procurar a Cidade dos Cachorros Mancos.

Esse lugar apesar e por mais surpreendente que fosse era uma criação dos homens. Lá, as caixas barulhentas só se moviam lentamente e as pessoas – até mesmo as ruins – não pareciam se incomodar com os cachorros ou com qualquer outra coisa. Haviam lágrimas, flores, lamentos, risadas e até cantoria, havia também comida que sempre sobrava para os cachorros mancos e espaço, muito espaço.

Sim, era um espaço para os párias, para os excluídos, mas ali teriam espaço, liberdade e segurança para viver suas vidas da melhor forma que pudessem. Se conseguissem chegar lá, se conseguissem chegar na Cidade.

O jovem filhote finalmente percebe que a história havia chegado ao final e que o velho estava dormindo. Ou havia desmaiado. Ou estava morto. Será que o final ele havia imaginado? Não importava, pois ele acreditava que tal lugar existisse e muitos diriam que acreditar num sonho era o bastante para fazer com que aquilo fosse verdade.

Quando conseguiu voltar para a matilha, ele contou toda a história para sua mãe. Ela riu e não queria que ele acreditasse nas besteiras de um velho que já devia estar morto àquela altura. Mas isso o entristeceu, pois naquele momento ela sabia o que teria que fazer um dia.

Então, logo que cresceu o bastante para não depender mais de sua mãe e poder desafiar seu pai, o jovem saiu da matilha! E saiu em busca de todos os cachorros mancos que pudesse encontrar, para lhes falar de sua cidade, para lhes falar do lugar para onde eles poderiam ir e viver suas vidas em paz e no ritmo que conseguissem.

Ele saiu para falar a todos sobre a Cidade dos Cachorros Mancos!

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfeito!