quinta-feira, março 26, 2009

O Preço da Liberdade

Recentemente pude comemorar pela segunda vez uma das grandes conquistas da minha vida, ter ido morar sozinha.

Sempre tive esse sonho, mas dificuldades financeiras me impediram de fazer isso antes dos 33 anos.

Durante esse tempo meu apê foi palco de uma série de acontecimentos. Tive dois relacionamentos mais sérios nos quais os sujeitos em questão frequentavam, minha modesta casa a qualquer momento do dia ou da noite sem absolutamente nenhuma cerimônia, já tomei inúmeros porres, alguns que me deixaram tão sem condição, que fui obrigada a dormir no chão da cozinha, tamanha era minha falta de condição de chegar até minha cama (detalhe, meu cafofo tem pouco mais de 40m2). Bebi a ponto de esquecer a porta de casa destrancada e logicamente as latinhas em cima da pia, fiz algumas festinhas que terminaram de manhã, levei estranhos pra lá (e não me orgulho disso), resolvi cozinhar de madrugada, assim como tomar banho e usar secador barulhento, deixar TV e som ligados ao mesmo tempo, trocar o dia pela noite, entre outras peripécias impublicáveis.

Em compensação, como algumas vitórias muitas vezes vêm acompanhadas de derrotas, e comigo não poderia deixar de ser diferente, tive vários momentos desagradáveis dos quais certamente me livraria se ainda morasse com meus pais:

Meu sofá certamente teria aquelas capas protetoras bacanas, não somente uns paninhos safados, sob os quais meus felinos se enfiam pra afiar as unhas. Mesmo essas sendo constantemente aparadas.

Essas mesmas fofuras que me trazem muita alegria, às vezes me dão certa dor de cabeça. Um dia, logo depois de ter chegado em casa e colocado minha camisola, ouço meu gato miar insistentemente. Eis que me dou conta de que era falta de comida. Tranquilo né? Não ! Simplesmente porque não havia ração e nada que eles pudessem comer. Lá vai Rafa mudar de roupa quase às 10 da noite e sair correndo pra dar tempo de pegar o supermercado aberto. Felizmente deu tempo.

Tenho uma diarista que vai à minha casa uma vez por semana. Nem sempre a vejo, pois quando saio para trabalhar deixo a chave na portaria para que ela pegue ao chegar. Eis que num desses dias, já no ônibus ela me liga dizendo que eu não havia deixado a chave. Tive que voltar e depois pegar de novo o ônibus pra ir trabalhar. Claro que cheguei atrasada.

Numa outra ocasião, esqueci de deixar o pagamento dela. Só me dei conta disso ao chegar no trabalho e me deparar com um dinheiro supostamente excedente na minha carteira. Não cogitei voltar pra levar o dinheiro naquele momento, em compensação tive que terminar o expediente mais cedo a tempo de chegar em casa e pagar a diarista. E ela ainda fez cara feia !

Quando fazia poucos meses que tinha me mudado, cheguei um dia em casa e o porteiro muito sem graça, disse que a Eletropaulo tinha estado no prédio e desligado a luz da minha casa. Tive que me virar pra descobrir o motivo. Muitos minutos depois, descobri que havia esquecido de pagar a luz, mesmo diante de um comunicado na conta seguinte àquela fatídica. No dia seguinte, resolvi o assunto. Mas foi um tormento passar horas e horas no escuro, não tendo ninguém pra culpar além de mim mesma. No mês seguinte coloquei todas as contas da casa em débito automático.

No início dessa semana resolvi que estava mais do que na hora de descongelar minha geladeira, pois a mesma mal estava fechando de tanto gelo acumulado no congelador. Sem muita prática no assunto, sempre fiz uso de um facão pra ir arrancando o gelo, e nunca tive problemas. Eis que dessa vez, fiz uma besteira muito grande e furei algo lá por dentro. No dia seguinte pela manhã me dei conta de que a dita cuja simplesmente não estava mais funcionando. Resultado: vou ter que gastar uma fortuna consertando, ou uma fortuna um pouco maior comprando outra. Apesar de pesar mais no bolso, a segunda opção me parece mais sensata e é provavelmente o que vai acabar acontecendo. E confesso que até gostei disso, depois de ver visto uma geladeira em conta, com frost free e água gelada na porta, um dos meus sonhos de consumo.

Nada disso teria acontecido se não morasse sozinha. Talvez até acontecesse, mas não teria tido tanta dor de cabeça e não precisaria resolver tudo sozinha. No final das contas, acho que tudo isso foi válido. É a constatação definitiva que mudei, cresci, aprendi, e acima de tudo vivi muito mais do que vivia quando não era independente. E não troco nenhum desses contratempos pela vida que tinha antes. Que fique claro, da qual sempre gostei, mas que me mantinha num certo grau de marasmo. Hoje sou eu que preciso correr atrás da minha vida, caso contrário, ela para e meus gatos podem morrer de fome !

5 comentários:

Paulinha disse...

é, nada na vida vem de graça, por mais que a etiqueta diga o contrário.
boa sorte na nova aquisição! ;)

Muta disse...

rafa, rafa, rafa...

ontem, quando eu advinhei que vc havia apunhalado a geladeira, vc não desconfiou de nada? hehe, eu obviamente já cheguei a fazer o mesmo, mas por sorte não furei nada, hehe.

mas é legal, em vários aspectos, morar sozinho mesmo. ainda que a família tbm faça falta.

:D

Lótus disse...

sorte sua q vc tem gatos, e não um filho.

ainda bem q perto de casa existem inúmeros serviços de entrega de comida E q meu filho já é grande o suficiente pra comer pizza, esfiha, comida chinesa, etc. senão, o q seria de mim??

aliás, é uma boa idéia, vou abrir um delivery de comida felina e canina. e outro de comida pra bbs, pensando principalmente nas mães sós em apuros! :o)

Michele disse...

Compra uma com degelo seco, é uma maravilha!
E a água na porta é sonho só enquanto vc não a tem, depois fica banal..eu nem uso mais a minha.

Mas já morei 6 meses sem geladeira, pq ao contrario do que vc disse, não esperei ter condições para sair de casa, sai aos 18 só com a vontade de estudar fora, sem nenhum tustão no bolso. rs

Boa história!

Flá disse...

Baby, eu não sei você, mas com todas essas mazelas e muitas outras mais, eu não voltaria a morar com os meus pais nem se eles tivessem o sobrenome Onassis. :-]
Liberdade, uma vez conquistada, não tem volta. Nem com uma geladeira a menos na conta bancária!