domingo, fevereiro 08, 2009

Deixando Pra Trás

O dia estava perfeito, desde o seu início, simplesmente perfeito!

Como era o seu aniversário, todos estavam mais dispostos a agradá-lo. Pessoas o cumprimentavam – com mais ou menos sinceridade, claro – e elogiavam seu trabalho. Até as meninas mais bonitas do escritório o abraçavam efusivamente, seus chefes sorriam a cada minuto e até o almoço tinha sido excelente.

Mas mesmo com tudo isso, um sentimento de que algo estava faltando o incomodava...

E veio a noite que, assim como dia, mostrava-se perfeita... Jantar com aquela menina linda com quem estava conversando há algum tempo, bebidas refrescantes, ambiente acolhedor, sendo paparicado e tudo acontecendo como sempre deveria acontecer, ou seja, tremendamente bem.

Só que aquela sensação incomoda de que faltava algo continuava por ali...

Para a sua surpresa o encontro não ficou só no jantar e eles ainda foram para um motel. Ah, como esse dia podia estar indo tão bem? Acontecimentos excelentes no trabalho, um jantar perfeito com aquela menina linda e, para arrematar, encerrar a noite num motel – afinal, a mera possibilidade de sexo anima qualquer um –, fazendo que queria já há algum tempo... Não faltava nada, tudo era perfeito. Tudo! Tudo... Tudo?

Não, as coisas não estavam perfeitas... Ok, mais uma vez as coisas estavam indo bem e o sexo foi excelente e a menina ressonava a seu lado quando ele percebeu que não conseguiria continuar daquele jeito.

Levantou-se e foi tomar um banho... Pensamentos martelando o tempo todo, tentando descobrir o que o incomodava. Ao terminar, olhou para a menina que dormia com um sorriso nos lábios e então viu as suas roupas.

Começou a se vestir, camiseta, cueca, meias e então entendeu! Terminou vestindo suas meias e tênis e saiu silenciosamente do quarto.

Alguns minutos depois, sentiu que tudo estava perfeito afinal: o vento da madrugada no rosto, a sensação de liberdade ao correr entre os carros, o olhar estupefato das pessoas...

... e a alegria por ter deixado chaves, carteira, documentos, dinheiro e suas preocupações para trás, tudo isso junto de suas calças, que ficaram penduradas em uma cadeira de motel.

2 comentários:

Eduardo disse...

A felicidade acontece na vizinhança do absurdo. Distante desse rosto, somos apenas esses sisudos que nos carros tem medo de parar no sinal. Esse seu texto, pequena narrativa bem construída e aparentemente leve, disse exatamente isso para mim. Suas palavras estão nos lugares certos, e apesar de ter uma grande aversão por pontos de exclamação, os seus pontos de exclamação, se não existissem na sua fala, tirariam boa parte da cor do seu escrito. Portanto fica aqui a minha sincera saudação. Com certeza retornarei, já que percebo que sua dicção tem um quê da desgraça dos vinte e poucos anos, tese na qual minha cabeça a todo momento trabalha, quer eu queria quer não. Afinal, é só dentro do aquário que se sabe o gosto e a cor da água. Um abraço, Eduardo.

Paulinha disse...

Ha... adorei o texto...
e o "novo/velho" layout! :D