terça-feira, fevereiro 25, 2014

O Proxeneta Escarlate

José Vermelhão caminhava a esmo pelas ruas do centro da cidade, cansado de ver tantas coisas estranhas ao seu redor.

Não, ele não se referia à fauna presente nos botecos, restaurantes, baladas e hotéis da região, pois todos eram, como ele gostava de definir, “gente como a gente, só que mais divertidos”. Ou seja, existiam os bons, os maus, os sem vergonha e demais, só que normalmente eles se levavam mais a sério do que os medianos de escritório que buscavam refúgio em suas tocas entrincheiradas.

Além disso, eles também eram seus clientes e subordinados, uma vez que ele era um indivíduo que cobrava para servir de intermediário em casos amorosos, comandando seu singelo serviço de Correio Elegante. Mas não só comandando; José Lambe-Lambe montava em sua bicicleta-escritório contornada por lâmpadas de neon e saia rodando pelas ruas do centro, ouvindo declarações, pegando bilhetinhos com letras trêmulas, flores embaladas em filmes cintilantes, listas de supermercado e tudo o mais que fosse, para então entregar – ou gritar do outro lado da rua – à diversidade ululante.

_ Rita do Olido, o João Borogodó mandou dizer que te ama!
_ Paulão Maromba, a Claudinha tá te esperando na Bento Freitas!
_ Ana Cláudia, não esqueça da torta de ricota pro Marcel!
_ Geiza, o John avisou pra passar no mercado que acabou a maisena!
_ Bianca Veruska, é hoje hein! – Afinal, às vezes ele entregava mensagens próprias também.

E assim seguia a noite de José Neon Lilás, em suas entregas sempre animadas, formando casais, salvando relacionamentos e tudo o mais, mas mesmo que se divertisse em seu trabalho, as coisas estranhas o deixavam incomodado.

De incomodado, cansado. De cansado, completamente de saco cheio!

Policiais agrediam moradores de rua e travestis com o avançado da hora, políticos só passavam pelo centro à noite, em busca de prazeres secretos, mas nunca viam os problemas à luz do dia. Promessas de revitalização de que nunca saíam do papel, assaltos, destruição, e as pessoas se sentiam cada vez menos seguras à noite lá no centro.

Eles temiam a todos, todos eram perigosos; ladrões, policiais, políticos...

Então José dos Muitos Apelidos decidiu que deveria ser “desconhecido” por mais um. Sem algo novo ele ficaria muito vulnerável, assim como seus clientes e até a Lenita do Copan, então uma identidade secreta seria necessária para cumprir seus anseios, pois ele havia se decidido.

José Amigão iria combater o mal que se instalara no centro!

Voltando para sua quitinete, José Magaiver encontrou um antigo colante vermelho, pegou um short de corrida que não usava fazia uns 20 anos e uma antiga máscara de carnavais passados e sentiu-se estranhamente confortável!

Agora José da Quarta de Cinzas não seria mais José. O Correio Elegante teria que esperar. Mas ele estava tranquilo, pois o amor sempre prosperaria no centro, desde que a violência e tudo que estivesse de errado ficasse sobre controle.

Desde que o Proxeneta Escarlate estivesse em ação!

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Nota do Editor:
• Do dicionário Houaiss, “proxeneta”, indivíduo que cobra para servir de intermediário em casos amorosos.
• Sim, Magaiver desse jeito mesmo!

Um comentário:

Ana CBB disse...

"José Lambe-Lambe" chorei aqui.
Muito bom!!!!!!!