segunda-feira, março 21, 2011

Vagas Demais na Garagem

Noutro dia, um belo e cinzento domingo, passando de carro por uma grande avenida da cidade de Santo André (o "A" do ABC Paulista), acabamos nos deparando com um plantão de vendas de um daqueles apartamentos cheios de "nove horas".

Vocês sabem do que estou falando... São aqueles apartamentos com diversas suítes e vagas na garagem, instalados em condomínios que dispõem de salas de cinema, salões de festa, piscinas e churrasqueiras, tudo isso, claro, nas versões para adultos, adolescentes e crianças.

Como há muito não víamos de perto algo do tipo, decidimos dar uma parada e conversar com uma simpaticíssima corretora de plantão. E sim, ela foi deveras simpática do começo ao fim, desde quando começou a falar sobre as incomparáveis inutilidades do condomínio (imaginem, esse é o único que conta com uma quadra OFICIAL, sim OFICIAL!!!, de tênis!), passando pela descomunal e quase obscena sacada, até chegar ao - esse sim - definitivamente obsceno preço do imóvel e sua forma de pagamento.

Mas antes que alguém diga coisas como, "Ah, mas você não imaginava que era caro?", ou, "Com tudo isso, você queria pagar quanto?", já adianto que sim, eu já achava que seria caro e, na verdade, eu praticamente acertei o preço. Acontece que ter acertado o preço, ter lembrado da quantidade de imóveis desse tipo que existem por aí e são, ao que dizem, "sucessos de vendas" e talz, me deixaram pensando...

Primeiro, bateu um desespero desgraçado; afinal, de onde eu tiraria dinheiro para comprar um daqueles? Teria, certamente, que trabalhar mais, crescer mais na empresa, talvez convencer o meu diretor a quase dobrar o meu salário e coisas do tipo, já que tanta gente consegue comprar imóveis assim, por que eu não consigo?! Depois, devidamente acalmado pela Dona Patroa, percebi que tenho um salário bacana e que, naturalmente, irá ficar ainda mais bacana com o tempo, bastando que eu continue a trabalhar.

Então finalmente cheguei a uma conclusão: afinal, eu realmente preciso morar em um imóvel assim? Meus filhos precisarão de paredes de escalada, piscina infantil e cinema coletivo? A Amanda será mais feliz se puder ter aulas de tênis em uma quadra de tamanho oficial se ela nem gosta desse esporte? O Ziggy vai ser menos maluco se passear no espaço interno dedicado a isso?

Não, não, não e não!

Tudo isso é feito justamente para criar uma necessidade que não existe! Afinal, não precisamos de apartamentos gigantescos, cheios de inutilidades extravagantes que ninguém de casa utilizará de verdade. Não precisamos de três vagas em uma garagem... Não precisamos de nada desse tipo de coisas, pois a vida de verdade, a que importa de verdade, não precisa de tudo isso... Aliás, se precisar, algo pode estar redondamente errado, não é mesmo?

Essas coisas tão complicadas e só fazem da vida algo ainda mais complicado? Será que já não está na hora de buscarmos a simplicidade e não o exagero complicado?

Que tal pensarmos em ter uma VIDA MAIS SIMPLES?

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Notas do Editor:
Esse texto foi estimulado, e muito, por conversas bastante construtivas com @amirasierras e Mr. Obst.

9 comentários:

Mariana Zanini disse...

Perfeito, Muta! É dessas necessidades inúteis que vive o consumismo... e eu também não consigo entender como esses apartamentos acabam tão rápido! Não será engodo??
Beijo!

Marcelo "Muta" Ramos disse...

Ah, eu acho que tudo não passa de uma fraude mesmo... Pode notar Mari: toda vez que você passar em um desses empreendimentos, sempre estarão restando apenas 2 ou 3 unidades!

Bjo!

Luciana L V Farias disse...

Uma outra coisa que não gosto de apartamentos descomunais é que ou fica cada uma da família em um canto diferente, ou eles nunca usam mais 1/3 dos cômodos. Sem contar com a limpeza, claro!

Beijocas...

Marcelo "Muta" Ramos disse...

Oi Lu, há quanto tempo!

Pois é, esse também é um efeito colateral do consumo descabido...

Bjo

Amanda Mirasierras disse...

Eu acho difícil acreditar que consegui sobreviver até hoje sem parede de escalada ou piscina com bordas infinitas... seja lá o que isso for. Mas ao que parece, essas coisas, de repente, passaram a ser indispensáveis.
E tomara que sejam mesmo. Afinal, se você vai passar uma vida e meia pagando um imóvel, que ele seja repleto de coisinhas indispensável.

Marcelo "Muta" Ramos disse...

E, logo após ler o comentário da Amanda, o Sheldon perguntaria: Sarcasmo?

Sim Sheldon, você acertou!

André Obst disse...

Sabe que depois daquele papo fiquei mais leve e com menos sentimento de culpa que me atormentava depois do vendedor me falar que vendeu uma torre em 2 dias.....to até pensando em retomar o projeto de colocar uma rede na varandinha estreita do meu humilde cantinho pra curtir essa onda de paz interior que surgiu...rsrsrs.Abraços

Denise disse...

Eu chutaria que as pessoas precisam de mais espaço e mais inutilidades para sobreviver porque em espaços menores e com menos futilidades, presta-se mais atenção a coisas importantes, a convivência é mais intensa e... enfim, você prefere montar quebra-cabeça com seu filho no chão da sala (sabendo que vai ter de desmontar tudo depois e que as costas vão doer no dia seguinte) ou mandá-lo (sozinho) pro playground, pra sala de cinema, pra parede de escalada?

Amanda Mirasierras disse...

Se fosse pra tentar chutar alguma coisa mais séria, eu cairia no clichê de falar sobre status. Porque eu mesma já visitei pessoas que me mostraram, muito orgulhosas, quantas piscinas e salões de jogos os seus "conjuntos residenciais" tinham.
Pode ser que ninguém usufrua do tal cinema, pode ser que uma quadra oficial de tênis só sirva para encarecer o condomínio. Mas pelo preço abusivo dos imóveis, me parece bem provável que tudo isso sirva para mostrar aos outros quão bem sucedido você é.