Quando eu era pequeno – em plena Zona Leste de São Paulo, nos idos dos anos 80 – certo momento do ano sempre era responsável por me trazer uma alegria especial. E como eu sempre fui um ser estranho, não se tratava de uma data comemorativa, nem de algum feriado importante, mas sim do dia em que acontecia a revoada de içás.
Em geral esse era o dia em que o tempo mudava, fazendo o dia mais quente logo depois do inverno propriamente dito. Era, para mim, o momento em que os dias frios de inverno ficariam para trás e as tardes seriam sempre quentes e boas para brincar!
Nada mais de ficar encapotado em casa, com frio e esperando a hora de dormir chegar. Correrias no quintal, passeios de bicicleta pela vizinhança, explorações pseudo científicas ou arqueológicas nos jardins, poder brincar com água, ficar deitado de barriga pra cima no quintal, esperando as estrelas aparecerem... Tudo isso e muito mais voltaria ser possível a partir daquele dia especial.
Ou seja: a revoada de içás mostrava que tudo seria ainda melhor a partir daquele momento...
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Então, ontem à noitinha, enquanto voltava para casa dirigindo pela Marginal Tietê e chegando à mesma Zona Leste da minha infância, percebi algo tremeluzindo às luzes dos faróis.
Pequenas criaturas aladas, excitadas pelo primeiro, e verdadeiro, dia de calor após o inverno, se aglomeravam nas luzes dos postes e dos carros – que mal andavam devido ao trânsito – e, mesmo sabendo que coisas simples como correr pelo quintal e se divertir com os brinquedos na água já não são exatamente uma realidade, eu me lembrei de quando era criança.
Afinal, eu estava em casa, eu estava bem e tranqüilo; eu sabia que tudo seria ainda melhor a partir daquele momento!
3 comentários:
Bela poesia em prosa.
:o)
Tudo está dando certo... tirando aquela namorida louca que vc arrumou!
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