A caneta, o tinteiro e uma folha em branco. Sinto-me armada até os dentes, pronta para disparar meu vocabulário mais feroz, apta a inocular o veneno letal, que por fim e enfim matará de vez esse sentimento que agoniza no meu peito. Fim, quero tatuar, ou até melhor, escarificar na minha pele amarela, curar a ferida e formar cicatriz, que mesmo feia e disforme, deterá ainda simbologia e significado. Ao menos para mim.
Com a arma ainda engatilhada, sento e penso. Será mesmo o caso de apontar e aprontar e pôr fogo em tudo? A própria possibilidade de ferir a mim mesma indica, sou humana. Tenho pele, sou de carne e osso, nos meus vasos corre sangue. Quente, ardente, nada azul, infelizmente. Perdi minha nobreza em alguma esquina desta cidade, em alguma mesa de bar, em algum leito desarrumado. Mas a temperatura dos meus fluidos permanece.
Fervor incompreensível, incompatível com meu ciclo feminino, impulsiona-me pelo caminho. Oras, tantas ruas, tantas avenidas, tantas praças, em algum lugar hei de achar meu lugar, com sorte ao lado de alguém que mereça me ter sentada a pensar. Com sorte ao lado de alguém que me queira ao seu próprio lado. Com sorte ao lado de alguém que me faça macular o papel para nele registrar meu completo renascimento.
Não sou fênix a bater asas, apenas uma flor, simples e delicada, mas nada simplória. Apenas uma flor que pode até fincar suas raízes na lama, mas que rompe a superfície sem se contaminar e então floresce na luz, ao voltar suas pétalas ao céu.
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Já me esquecia de dizer. Visite meu blog para ler mais reclamações sobre a vida. Pena que pra elas não há funcionário do Procon que dê conta. Daria, se quisesse. Mas não quer, fazer o quê.
4 comentários:
Que triste e bonito!
mtas vezes tenho a impressão de que meus textos são mais do que eu mesma. mais tristes, mais bonitos...
afinal, a tristeza muitas vezes é mais bonita!
mas anime-se, sua reveladora... :D
ps.: acabei de ler o seu e-mail... sem crises e logo mais conversamos melhor.
ui, eu e meus dedos inquietos...
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