Eu estou virando um disco riscado, de tanto que falo na ex-separação. Ex-separação porque separação do marido é estranho demais e separação do ex-marido é mais estranho ainda. E simplesmente "separação" pode ser separação de muita coisa. Separação da família, dos amigos, do próprio corpo... Mas isso pouco importa, o que é relevante vem nos próximos parágrafos, mesmo que retomando uma das histórias da ex-separação.
Uma das (muitas) coisas que enlouqueciam o exmaridóvski eram minhas amizades. Não tanto as amizades em si, mas o fato de eu ter muito mais amigos homens do que mulheres, numa relação de aproximadamente 3 para 1. De 4 amigos, 3 do sexo masculino e 1 do mesmo gênero que eu.
Intrigava ainda mais o exmaridóvski o fato de eu ser muito mais chegada dos rapazes do que das garotas, de modo geral. Quando um deles tinha algum problema, era a mim que recorriam. Quando elas tinham algum problema, recorriam a qualquer pessoa, menos a mim. E eu, sempre que tinha algum problema, recorria a todos eles, e neste caso o masculino não é usado como gênero neutro, mas como indicativo de que nesse grupo só havia garotos mesmo.
Isso faz tempo, nós mal saíramos da adolescência.
Mas eu, exmaridóvski e amigos correlatos crescemos. E os problemas também, e as amizades também. Cresceram tanto que tiveram de ser podadas pelo ser que então já era meu anexo, meu apêndice, meu acompanhante certo e impreciso. Cortou-me as asas, com o meu consentimento, e eu firmei os pés no chão e nunca mais ousei voar.
Elas, eu encontrava com exclusividade vez ou outra, depois de muito solicitar e de longas negociações a respeito de dias e horários ideais - a ocupada agenda familiar não podia ser desrespeitada.
Eles, eu encontrava na Internet, exclusivamente via e-mail ou msn, porque nem no Orkut era possível ficar à vontade.
Elas e eles, acredito, compreenderam a natureza do meu sumiço. Aceitaram desculpas esfarrapadas para as minhas ausências nos sábados de pizza, e embora reivindicassem o ombro amigo de volta, bem sabiam que sobre ele pousava uma mão pesada chamada casamento.
Com o nascimento do filhote, a alegria tomou conta do lar e da vida. A dedicação à família deixou de ser exclusiva, tornou-se obsessiva. Casa-marido-filho, não necessariamente nessa ordem, compunham meu trio extratrabalho. Foi uma prisão consentida por mim mesma, e muito desejada e incentivada pelo exmaridóvski.
Contudo, por mais que a flor de lótus se origine da lama e que nela tenha suas raízes, o botão encaminha-se em direção à luz e somente na superfície desabrocha, como flor imaculada, despejando na atmosfera todo o seu esplendor. Tentar retê-la no caminho é impedi-la de cumprir seu destino e condená-la à eterna lama de uma vida não florescida.
E eu, baixinha folgada que sou, recusei-me a permanecer na prisão obscura. Separei-me, enfim, e agora alegro-me por poder ter tantas amigas e tantos amigos quanto desejo, independentemente de seu sexo, de sua classe social, de sua etnia, de sua profissão. Se as amizades originadas na Internet, em especial, antes eram motivo de desconfiança para o exmaridóvski, bem, agora me rendem muitas risadas, muitos prazeres, muita realidade, enfim.
***
Encontre-me ocasionalmente no meu blog seminal, o feminino do lótus. E toda quarta-feira aqui, no Idéias.
8 comentários:
mto bem senhoura lótus! sabe, realmente equilibrar essa questão de amizades e relacionamentos de outra natureza é um ponto chave em qualquer namoro/casamento/afins que exista!
e, é claro, é algo muito difícil de se fazer; porém não impossível. :D
hoje eu vejo que se trata de algo muito básico: respeito. respeitar o espaço do outro, atributo fundamental em qualquer relacionamento, inclui respeitar também as amizades do outro.
hoje eu vejo que poucas pessoas estão realmente dispostas a isso.
Verdade total o texto e o comentário tanto de Muta quando o seu Lótus.
Acho que qualquer relacionamento em si é complicado, mas o amoroso beira ao limite. Respeito é essencial em todos, mas primordial no amoroso. Sei como é ter mais amigOs que amigAs... desde sempre meninos me entenderam melhor que meninas. Assim tenho mais amigOs que amigAs e o namo meio que entende. Da mesma maneira que eu meio que entendo o lado dele, que tem mais amigAs que amigOs. Sei que isso se deve boa parte por conta do trabalho dele, psicólogo, que vive cercado de mulher... e entendo, mas assim como o respeito é algo a ser exercido, o ciúme (em excesso) é algo a ser combatido. Porque tem muita coisa que sabemos conscientemente, mas o coração não quer nem saber. Mas ainda sim, não podemos deixa-lo sair reinando sozinho... porque ele está longe dos olhos e na maioria das vezes, cegamente, ele se mete em encrenca e acaba em pedacinhos.
ciúme = insegurança
ciúme = posse
ciúme = psicose
não vejo ocasião em que ciúme se justifique num relacionamento, nem mesmo em pequenas doses.
talvez o coração não tenha olhos e se meta em encrencas cegamente, mas se o dono tiver bons ouvidos, vai escutar seu peito chiar antes de o coração se despedaçar. não é uma questão racional, mas de sensibilidade. ;o)
A sua ex realidade é a realidade do meu marido. Quando o conheci ele já tinha muito mais amigas que amigos. O que poderia ser motivo de ciume para algumas mulheres, para mim representava sensibilidade e respeito com o genero. Me tornei amiga de todas, que gostam de mim hoje como gostam dele. A reciproca foi verdadeira, todos os meus amigos continuam meus amigos e os vejo frequentemente. Tudo isso proporciona momentos de muita diversão, até mesmo nos dias em saiamos separados. Liberdade é a melhor coisa de um casamento, vem junto com a confiança.
O problema é só nos damos conta disso quando é tarde demais. Mas também é bem complicado se o eleito não vai com a cara dos seus amigos, ou vice versa.
Pois é, relacionamentos, estar amando, é tudo muito bom. Pena que o pacote completo quase sempe traga alguns poréns.
Rafa,
Nunca é tarde demais.
Como LOTUS disse respeito é fundamental, é a base da amizade, do amor e do companherismo.
Quem te ama te deve respeito.
AMIGOS q são amigos não ultrapassam medidas e num relacionamento Ceder um pouquinho de um lado e do outro, deixa a relação saudável pra ser longa e duradoura.
Ju
Pois é, Rafa, eu concordo com vc. Às vezes essa percepção vem tarde demais. É claro q o pacote completo dos relacionamentos sempre tem alguns (às vezes muitos) poréns. Se não fosse assim, não teria graça hehehe...
Postar um comentário