quinta-feira, setembro 18, 2008

O Consolo de Elza

Elza vivia de mentiras. Mandava cartas e e-mails pra ela mesma como se fosse de um namorado, fingia para ela mesma e para todos que saia com ele, que iam à casa um do outro e que levavam uma vida em comum. Diante da sua solidão, da dificuldade de encontrar alguém, simplesmente criou uma mentira, na qual ela mesma passou a acreditar com tanta veemência que já vivia aquela vida como se fosse normal. Fazia jantares, colocava lugar para dois na mesa, fingia que escrevia e telefonava para ele diariamente.

Ela não tinha limites. Era uma pessoa tão perturbada que seu dia-a-dia girava em torno desse assunto. Vivia pensando em artifícios para continuar levando essa farsa adiante. Chegou ao ponto de sumir por quase uma semana dizendo que foi viajar com o dito cujo. E fez pior, passou esse tempo reclusa em casa "produzindo" fotos dos locais onde supostamente estiveram nesse período.

Era impressionante o tipo de coisa que inventava para não deixar que desconfiassem da sua mentira. A única pessoa que sabia de tudo era a Lygia, sua prima, mas que não compactuava de nada, atuava apenas como ouvinte dos casos e das crises pelas quais Elza passava.

Outro problema era ela ter que lidar com as mentiras que inventava, sem jamais cair em contradição. Tarefa difícil, um exercício de autocontrole e de memória, mas que até então estava conseguindo administrar sem problemas.

Depois de 7 meses de "namoro", absolutamente nenhuma pessoa do seu convívio conhecia Roberto, e passaram a insistir nessa apresentação, já que ela parecia tão feliz com o tal sujeito. Mas outros dois meses se passaram sem que ela tivesse a iniciativa de fazer isso acontecer. Alguns amigos e parentes mais próximos começaram a desconfiar de que havia alguma coisa errada e passaram a investigar a vida dela.

Eis que numa ocasião passando na porta do que seria o suposto prédio onde o rapaz morava, distraidamente comentou o detalhe com a irmã, que sugeriu que parassem e chamasse ele para que finalmente se conhecessem. Elza reagiu imediatamente, inventando alguma desculpa. Apesar de muito insistir, não foi convincente e teve que de fato chamá-lo. Parou na entrada do prédio e ao tocar o interfone para falar com o porteiro, viu em questão de segundos o mundo desabando sobre sua cabeça.

Ao perguntar pelo Roberto, sem mencionar o apartamento, eis que teve a maior sorte de sua vida. Algum morador tinha o mesmo nome, e o lacônico porteiro se limitou a dizer "ele não está, volta amanhã". Alívio, foi o que ela sentiu naquela hora, mesmo sem conseguir entender bem o que se passara. Mas nesse momento se deu conta de que a farsa não duraria muito tempo, o cerco estava se fechando e algo teria que ser feito.

Poderia simplesmente dizer a todos que o relacionamento havia acabado, mas inicialmente descartou a possibilidade pois teria que fingir estar triste e deprimida, e não estava disposta a fazer isso.

Fingir que ela mesma havia dado um fim no namoro, era uma alternativa, mas que iria contra toda essa mirabolante história que ela mesma havia criado com tanto afinco, e à qual estava totalmente apegada. Descartou essa idéia também.

Mal sabia ela que estava prestes a ser desmascarada. Certa noite ela disse à irmã que estava indo dormir na casa do namorado. Como ela já andava preocupada com a iminente possibilidade de ser descoberta, tomou quase todas os cuidados possíveis, mas esqueceu de um pequeno detalhe, sua irmã sabia onde ele morava ...

 

Quer saber como vai terminar a saga da Elza? É só voltar aqui na próxima 5a !

2 comentários:

Julie disse...

Nossa!!! O que leva uma pessoa a tamanho desespero??? A solidão ou a falta de amor próprio...
Quero ver as cenas dos proximos capitulos hein Rafa...rs
Abs

Giselle disse...

Puxa!!! Fui toda empolgada esperando o final empolgante, e ..... Sou tão ansiosa com a leitura.... que a quinta chegue depressa!!! rsrsrsrs
Abraços e boa semana!