quinta-feira, julho 03, 2008

Separações

A recente notícia da mudança de uma amiga para outro estado me fez começar a pensar na vida e nas separações que, mesmo não nos dando conta, temos que enfrentar desde que nascemos.

A primeira, mais radical, mas não lembrada por razões óbvias, é quando nos separamos da barriga da mãe. Não é à toa que quando saímos de lá abrimos o berreiro.

Alguns anos depois, quando já estamos mais crescidinhos, mas nem por isso aptos a entender o motivo, nossos pais nos largam na creche. É a segunda ocasião onde uma separação pode ocasionar choro compulsivo

Mas até aí os grandes traumas provavelmente envolveram somente os pais. A medida em que vamos crescendo, outras pessoas vão entrando em nossas vidas e muitas delas saem de repente, sem aviso, involuntariamente nos alertando sobre o que nos espera. São amigos e amigas que mudam de escola, do prédio, da rua, da cidade. Parece que arrancam um pedacinho da gente, que não vamos mais saber viver sem aquele amigo com o qual costumávamos nos divertir nas longas horas de folga. Até que alguém novo aprece e toma o lugar que parecia insubstituível.

Na adolescência parece que nossos laços com determinadas pessoas se tornam mais fortes. As separações passam a ser mais doloridas, mas verdadeiras. Seja o companheiro de colas do colégio, das aulas de natação, do curso de inglês. Alguns conquistam um lugar especial no coração, e desses sentimos falta por muito tempo ou para sempre. Já outros, deixam um vazio, mas que em pouco tempo é preenchido por uma nova e “eterna” amizade.

Nessa mesma época é quando nos apaixonamos e começam as primeiras decepções amorosas, daquelas que parecem que vão deixar nossos corações destruídos para sempre. O ciclo vai se repetindo, encontramos e novamente perdemos novos amores, e assim vamos aprendendo a lidar com essa dor; que termina (ou não) de vez quando um dia finalmente encontramos nossa “alma gêmea”.

Eis que entramos na faculdade, estamos cheios de sonhos, empolgados com a possibilidade de conhecer pessoas novas, fazer amigos com os quais passaremos a sair, nos divertir e criar vínculos. Num piscar de olhos a faculdade acaba e todas aquelas pessoas com as quais convivemos por alguns anos, passam a fazer parte do passado. Infelizmente algumas deixam saudades e inexplicavelmente somem pra sempre.

Creio que nessa altura da vida já temos bastante experiência no assunto, mas infelizmente não temos e nunca teremos como não sofrer com a perda de uma pessoa querida.

Como se não bastasse tudo isso, temos que durante toda nossa existência, enfrentar a morte; certamente a mais dolorosa das separações. Sejam parentes velhinhos ou bichinhos de estimação, o sofrimento sempre existe, seja em maior ou menor grau.

Talvez não tão sofridas, mas com certeza muito sentidas são separações de ambientes onde vivemos por muito tempo, como uma escola, trabalho ou a própria casa. São lugares que carregam uma história de vida e que por isso mesmo nos deixam lembranças e tristezas inexplicáveis.

Estar do outro lado, ser a pessoa que se muda e deixa tudo para trás, também é uma experiência dolorosa e dramática, mesmo quando sabemos que a nova vida pode ser melhor. Tendo passado por essa situação, posso dizer que imaginei que tal transformação pudesse amenizar o sentimento de perda, mas percebi que não. Cada caso é diferente do outro. Nunca vamos deixar de sofrer pela partida de uma pessoa querida. Pode até ser que aprendamos aos poucos a lidar com a situação, mas deixar de sofrer, jamais. Talvez pessoas mais iluminadas consigam, mas como não me considero uma delas, me afogo em lágrimas quando alguém se vai, e fiquei muito mais triste ainda quando tive que me mudar.

Nascemos sozinhos e partimos sozinhos, mas acho que a nossa missão é a evolução, portanto sempre precisaremos de alguém. Não somos auto suficientes, e saber viver sozinho é um aprendizado, afinal nossa felicidade não deve depender totalmente de terceiros. Temos que aprender a ser felizes por conta própria, mesmo que por pouco tempo, pois por uma vida inteira é inviável.

Nossa história pessoal deve ser feita de riso e de choro. Rimos quando estamos com essas pessoas especiais. E choramos quando elas nos deixam. Mesmo quando sabemos que não é pra sempre.

São momentos tristes e que me fazem chorar, mas infelizmente estou tendo que me preparar para em breve passar por isso mais uma vez. Nunca vou deixar de sofrer ao me distanciar de pessoas queridas, assim como vou ter sempre a esperança de revê-las um dia.

2 comentários:

muta disse...

Rafa, não sei nem o que falar desse teu texto...

Dói? Dói! Mas ser otimista e continuar levando a vida, se cuidadando e talz parece ser a melhor - apesar de não a única - saída.

Ju disse...

Poucos textos que li falam tão próximo do que sinto agora....
Muito bom Rafa e ... a vida é assim...