quinta-feira, junho 26, 2008

O passeio solitário

Eu entrei no ônibus aquele dia sem saber exatamente o que iria fazer. Tinha um dia livre (e lindo) pela frente, nenhum horário ou compromisso.

Conhecia o trajeto inteiro, mas não sabia onde desceria, até onde o passeio me levaria, ou até mesmo se meu destino seria ficar ali dentro, circulando pela cidade, somente observando ou descer em determinado ponto para fazer um programa comigo mesma. Resolvi relaxar e literalmente deixar a vida me levar.

Estava com muita vontade de ficar sozinha, o que não significa que estivesse triste. Muito pelo contrário, acontecimentos recentes tinham tornado minha vida melhor, e com a vida corrida que vinha levando, acho que a falta de tempo me impediu de parar pra pensar. Solidão, decididamente não é sinônimo de tristeza.

No início, nem sabia bem o motivo desse passeio um tanto insensato, o que tinha feito eu sair de casa e tomado tal ônibus. Poderia ter ido a um parque, fazer compras, ir ao cinema; programas que costumo fazer sozinha, mas naquele dia, algo me levou a tomar um ônibus, meio sem rumo. Mesmo que inconscientemente, a preguiça teve parte nessa escolha.

Como não sou muito chegada a conversar com estranhos, principalmente em ônibus, onde se encontra de tudo um pouco, a excelente alternativa que encontrei para fugir dessas situações, foi carregar um cd player (ainda não sou moderna e rica o suficiente para comprar um iPod). Levei músicas que me trazem boas recordações, como Depeche Mode, Madonna e como metaleira fiel, o menos conhecido, mas não menos amado Blind Guardian, e que no final foram reveladas felizes escolhas.

As músicas me fizeram pensar tanto, relembrar muitos momentos da minha vida, que acabei relaxando e nem me importando se desceria do ônibus ou não. Talvez quando sentisse vontade de fazer xixi. Mas como isso levou horas pra acontecer, me entreguei aos meus pensamentos e tive um dos dias mais produtivos dos últimos tempos.

Sozinha, pude pensar no que ando fazendo de errado ou de certo, na minha vida amorosa, na minha saúde, no trabalho, no passado, no presente e principalmente no futuro. Consegui até tomar algumas decisões relevantes. Cabe dizer, que logicamente estava acompanhada do meu inseparável caderninho laranja já no fim da sua vida útil, de tanto uso.

Depois de quase duas horas sentada pensando, cantando baixinho e fazendo anotações, era hora de me mexer um pouco, procurar um banheiro e uma água gelada. Como estava na cidade de São Paulo, onde o tempo muda totalmente em poucas horas, o céu lindo que havia visto no começo do passeio, tinha dado lugar a nuvens e a um clima abafado típico de chuva. Algo que eu detesto, mas que naquele momento, curiosamente, não me afetou. Não pelo fato de ter levado o guarda chuva, mas sim por não estar me importando em tomar chuva, algo atípico para mim.

Sabia que tinha um shopping relativamente perto de onde estava, e desci do ônibus.Claro que durante o caminho ela chegou. Fina e refrescante. Estava bem perto do meu destino, o que foi providencial para não me deixar ensopada, e assim sendo não cheguei lá com cara de pinto molhado. Menos mal, pois já chamo atenção naturalmente. Se estivesse molhada, os olhares seriam de pena, no mínimo. Me livrei disso.

A fome estava batendo, e resolvi fazer um lanche. Foi curioso perceber as pessoas me observando. Dessa vez sim, senti que me olhavam com certa pena. No entanto, era como se não fosse comigo, pois não era eu que estava sendo julgada, e sim, elas. Deixei um pouco o egocentrismo de lado e comecei a observar os indivíduos que circulavam por ali. Me pus a imaginar o que cada uma estava fazendo ali, qual era sua relação com as outras pessoas com quem estavam e como poderiam ser suas vidas.

No final, não cheguei a muitas conclusões, mas percebi que vi muita gente acompanhada, embora transbordando solidão. Isso me fez pensar em pessoas que sempre estão acompanhadas e nunca tiram um tempo para ficarem sozinhas. Será que é porque evitam suas próprias companhias? Acho que muita gente por ser assim acaba não se conhecendo de verdade.

Depois de passar algum tempo divagando sobre questões quase filosóficas como solidão e auto estima, era hora de tomar algum rumo. Já que estava num shopping, o rumo escolhido foi uma loja de bijuterias, onde acabei deixando algumas dezenas de reais, alegrando mais ainda o meu dia e o da vendedora.

Estava mais do que satisfeita com essas minhas últimas horas “all by myself”, com meus pensamentos, idéias e constatações. Saí dali feliz, peguei o ônibus que me deixaria em casa quase duas horas depois; e durante a volta, absorta nos meus pensamentos cheguei à conclusão de que muitas vezes sou a melhor companhia pra mim mesma.

Não tem irmã, pais ou amigos que me façam tão bem quanto eu mesma.

Um comentário:

Muta disse...

Olha Rafa, passei as 3 últimas semanas bastante sozinho e longe de tudo...

Ok, eu me aguento e me dou bem comigo mesmo, mas cansa, hehehe.

Só que tive realmente tempo para pensar em muuuuitas coisas.

:o)