quinta-feira, junho 19, 2008

O mistério do encontro

Um dia ela entrou na Internet simplesmente pra checar sua caixa postal, jurando que não levaria mais do que uns quinze minutos.

Entre e-mails oferecendo produtos mágicos para emagrecer, descontos em produtos inúteis e alguns amigos querendo saber dela, encontrou um que lhe chamou atenção.

Há alguns meses fazia parte de um grupo de discussão sobre relacionamentos e cujos participantes ainda não tinham se encontrado. Detalhe, o grupo já existia há mais de dois anos. Eis que ali havia uma proposta interessante. Alguém finalmente sugerindo um encontro real de um grupo virtual já bem entrosado, mas cuja maioria dos participantes jamais tinha se visto ou se falado.

O local, horário e data eram bastante propícios. Só faltava a timidez dar lugar à coragem e ela ir. Tinha mais de dez dias para pensar e jurou que iria. Sozinha.

Mesmo que tivesse se passado um mês ela já sabia que de nada adiantaria, só na hora H resolveria o que fazer; como sempre.

Dia 26, o dia D. Colocou uma roupa mais bonita, mas sem exageros, fez as unhas, uma escova caseira, um perfume gostoso e discreto. Recebeu elogios da família ao sair de casa, de colegas de trabalho e sentia que aquela sexta feira estava começando bem.

Passou o dia todo checando os e-mails a fim de descobrir se algo a faria desistir ou não de ir ao tal encontro. Mas nada foi comentado a respeito, não tendo influenciado em nada sua decisão.

Como trabalhava perto do local escolhido, e havia sido marcado para as 19 horas, poderia sair no máximo 20 minutos antes que chegaria a tempo. Eis que bateu a dúvida. Sair mas cedo e chegar antes de todos, ou atrasar um pouco e chegar mais tarde quando muitos já estivessem lá? Era sua chance de aparecer, fazer sua propaganda, mostrar a cara e esperar pelas conseqüências. Sejam lá quais fossem.

Finalmente o longo e abafado dia acabara e ela estava prestes a ter que tomar a decisão que definiria sua noite. O bar era no caminho para casa, e os minutos que levaria para chegar lá seriam decisivos e fatais. Esperava que antes de chegar à porta já tivesse resolvido. Caso contrário continuaria andando e iria pra casa, certamente arrependida.

Pronto, lá estava o bar. As luzes convidativas piscando, o calor chamando um chopp gelado, pessoas agradáveis se divertindo.

Foi indo até a entrada e em poucos segundos localizou a mesa com um ridículo pedaço de papel onde mal se via escrito o nome do grupo. Respirou fundo quando viu apenas quatro homens na mesa; o que logicamente só a deixou mais nervosa, uma porção de lingüiça fumegando e alguns copos de chopp ainda cheios. Tudo indicava que deviam ter acabado de se encontrar. Decidiu ir até lá e encarar.

Ao chegar, sua presença mal foi notada e precisou se apresentar. Com uma voz baixinha e gaga disse: “Oi, sou a ...”. Fez–se um silêncio sepulcral na mesa, com o qual ela se assustou.

Não sabia se continuava a falar ou se sumia dali na mesma hora. Teve poucos segundos para pensar, e quando viu já estava terminando a frase: “... sou a Darci, participo do grupo há pouco tempo, não sei se me conhecem, escrevo muito pouco por lá”.

Dessa vez não houve silêncio, e sim uma comoção geral dos quatro homens que pareciam muito preocupados com a presença daquela mulher. Pediram que ela se retirasse antes que os causasse problemas e pareciam realmente nervosos.

Foi embora na mesma hora sentindo um pouco de medo, preocupação e sem entender absolutamente nada do que havia acontecido.

Só no dia seguinte, quando acessou sua caixa postal novamente e foi ler o e-mail que havia recebido com o tal convite descobriu que aquele era um encontro misterioso entre homens do grupo que participariam de um evento um tanto suspeito. O convite, muito bem bolado e sem dar pistas do que de fato seria, foi enviado somente para os homens que já sabiam o que aconteceria, e como seu nome parecia masculino recebeu o e-mail também por engano.

Como não podia morrer com aquela dúvida criou uma personalidade masculina e, poucos dias depois de muita conversa com alguns dos homens, descobriu o mistério.

Era nada mais do que um grupo de homens virgens na faixa dos 30 anos, que não se assumiam publicamente nessa condição e que naquela noite fariam uma “festinha no apê” de um deles com a primeira mulher que falasse com eles e aquele era somente o ponto de encontro para o início da noite.

Como ela era do grupo e poderia colocar tudo a perder, foi dispensada imediatamente, e como resolveu se descadastrar do grupo no seguinte ao vexame, não chegou a receber nenhum e-mail ameaçador.

2 comentários:

Muta disse...

Nossa Rafa, que hístória bizarra, hahaha.

E bem vinda de volta!

Cristiane disse...

hahaha, da hora!